terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Caros Membros do Colégio de Especialidade de Psiquiatria

A face oculta da homossexualidade é enorme nas faixas etárias menos jovens. Cresceram numa época repressiva em que não casar e não ter filhos era anormal. Hoje convivem mal com essa "farsa" porque perceberam, enfim, que empenharam a sua identidade. Agora querem uma "pílula dourada" para "adequar" a sua orientação sexual ao seu estado civil. Não os condeno, mas não é assim que resolvem o seu problema.

As melhoras,

domingo, 20 de dezembro de 2009

Caras Rita Ferro e Teresa Caeiro,

Tenho pena que duas mulheres bonitas e inteligentes não percebam o seguinte: uma criança pode ser adoptada por quem tem, efectivamente, vontade de a criar e amar, ponto. Independentemente da sua orientação sexual, ponto.

Quase tropecei e caí quando ouvi a Teresa Caeiro, num programa de rádio, dizer que não há estudos nem certezas acerca dos "possíveis traumas" que poderão advir de uma criança ser criada por duas pessoas do mesmo sexo, vivendo maritalmente. Cara Teresa Caeiro, acredite que não quero ser desagradável nem ofensivo mas esperava de si um pouco mais. É a história da nossa vida lidar com problemas na mais tenra infância. E é isso que faz de nós melhores pessoas. Os filhos de pais divorciados eram, como, aliás, a própria Teresa Caeiro referiu, considerados inapropriados para se conviver com. E sobreviveram. E a nossa sociedade aprendeu que era uma estupidez. E aos dias de hoje quase já é motivo de anedota um casal que sobreviva a 15 ou 20 anos de casamento.

Em jeito de conclusão, resta-me dizer-lhes, caras Rita Ferro e Teresa Caeiro, como esperar que as crianças sejam toleráveis para com matérias que os próprios adultos ainda não são. A culpa está toda, obviamente, nos adultos que se refugiam em mentiras infantis. Sem ofensa para os infantes.

E digo mais, entristece-me que duas mulheres, repito, bonitas e inteligentes, e acrescento, emancipadas, estejam agora coniventes com as mesmas leis empedernidas - espartilhadas por interesses religiosos obscuros - que outrora importunaram a autodeterminação da Mulher. Acaso julgam que são assuntos diferentes? Não são! E relembro-vos que muitas mulheres lutaram para que hoje possam estar aí a fazer um programa de rádio. Por outro lado tenho pena que, agora que é fácil para vós, tomem a posição também mais fácil: alinhar com moralismos bacocos.

Cumprimentos,

Caríssimos II

Ainda ninguém me conseguiu explicar de forma inteligente: 1) porque é que um acto celebrado entre duas pessoas e sem consequências para terceiros preocupa tanto esses terceiros? 2) porque é que os movimentos religiosos que deviam celebrar o amor e a vida se empenham em celebrar a morte (proibição do uso de preservativos) e o ódio (perseguição de pessoas com base na sua orientação sexual)?

Algo está podre e não é no reino da Dinamarca.

Caríssimos,

Para acabar de vez com hipocrisisas bacocas: existem duas formas de se ser heterossexual, sendo-o, efectivamente, ou pretendendo sê-lo.

Caso subsistam dúvidas acerca do que escrevi acima, uma das formas de as dissipar, por exemplo, passa por inscreverem-se num chat de encontros entre homossexuais e manifestar preferência por homens casados... Se tiverem coragem de levar o jogo até ao fim, poderão contatar que, efectivamente, ser heterossexual pode ser uma atitude e não uma orientação sexual real.

O que se passa na cabeça de cada um é um mistério insondável, às vezes até para o próprio. As opções de cada adulto a si dizem respeito, desde que não colidam com os direitos de terceiros. É completamente desajustado fazer qualquer tipo de discriminações de cariz sexual.

O que atrás escrevi é por demais óbvio e atrevo-me a afirmar que já é muita condescendência da minha parte ter perdido o meu tempo a afirmá-lo. Mas o objectivo justifica-o. E esse objectivo é demonstrar que não há qualquer razão para, sequer, introduzir a variável "orientação sexual" em qualquer tipo de regulamento e de lei. Será já sempre demasiado tarde o dia em que conseguirmos olhar para qualquer cidadão e considerá-lo de pleno direito independentemente de ser um homem ou uma mulher e da forma como se sente realizado sexualmente.

Chega de obscurantismo!

domingo, 30 de agosto de 2009

Caros Miguel Sousa Tavares e Henrique Monteiro,

Obrigado pela oportunidade de matar dois coelhos... Permitam-me o favor de "abrir" a vossa cabeça, prometo que não será à machadada, mas no sentido figurativo do termo.

Não! Não concordo nada com a vossa opinião, coincidente, de apoio ao veto do Presidente à lei das uniões de facto. As pessoas inteligentes, e que não estão distraídas, já vão mais à frente: a lei deve salvaguardar-nos a todos sem termos que entrar na categoria dos tipos e tipas que gostam de ter relações com pessoas de sexos opostos ou do mesmo sexo. A lei inteligente e progressista é aquela que já saltou sobre a discussão do que não é sequer discutível. Embirro solenemente que se criem classificações com base na orientação sexual. Todos somos cidadãos, independentemente dessa orientação e ninguém tem que fazer favores a ninguém. Até porque todos pagamos impostos.

Perdoem-me a franqueza mas chego a achar rídicula a hipótese que colocam desta nova proposta de lei vir "forçar" todas as pessoas a encaixarem-se nas uniões facto, mesmo aquelas desprezam essa figura. Digo-vos, com conhecimento de causa, que isso é uma falácia. Há muitas pessoas que vão continuar a viver juntas, por impulso, e que se estão a marimbar para os papéis. E estão, também, no seu direito. Mas quem se divorciou o ano passado e este ano quer viver em união de facto, tem que ter uma lei que o salvaguarde.

Não me venham com a "tanga" de que propostas deste género pretendem, de forma dissimulada, é dar cobertura às uniões de facto entre homossexuais. Repito, são fórmulas inteligentes aquelas que não perdem tempo a discutir o que não é discutível.

Cumprimentos a ambos,

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Cara Maria José Nogueira Pinto,

Acorde para o inevitável: o conceito de família está mesmo a mudar e, face a isso, os cidadão precisam de novos regulamentos que os salvaguardem. E não venha, por favor, invocar as equerdas e as direitas, não quero saber se é o Socrátes ou se é o Louçã. A Maria José acredita que a direita está imune ao divórcio e à homossexualidade? Sabe muito bem que não. A diferença está na "hipocrisia dos bons costumes". Acima de tudo somos todos cidadãos. Um dia posso acordar como cidadão casado e noutro dia como cidadão divorciado mas a viver uma união de facto. E quero ter plenos direitos em ambos os casos.

Tenho pena que as forças de bloqueio tornem este processo mais demorado, mas não tenho dúvidas: está para breve!

Atentamente,

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Caro Presidente Cavaco Silva,

O que esperar de si, que é um presidente de direita, que seja progressista? Maça-me um bocado mas a verdade é que tenho que me encher de paciência e perseverança para ir inculcando nos que me rodeiam - os conservadores por distracção - a vontade de reflectir acerca da legitimidade de uns e da ilegitimidade de outros. E, assim, abrir caminho ao que todos os conservadores convictos evitam mas que, no fundo, sabem - pelos menos os que tenham dois dedos de testa - que está imanente: a igualdade de direitos.

Passe bem,

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Caro Moita de Deus,

Se orgulho é tanto, porque é que os autores não tomam a iniciativa de se identificar perante as autoridades? O gesto dos 40 voluntários é bonito mas seria mais bonito ainda que os autores não se escondessem atrás desses 40. Quiseram festejar de uma forma irreverente algos que lhes é caro. Com certeza sabiam qual o leque das penalizações possíveis. Pela parte que me toca, agradeço a sua preocupação com o dinheiro dos contribuintes, mas ficaria mais satisfeito que actos criminosos - este e outros - fossem punidos como tal. Idealmente, a vigíla da polícia deveria ser suficiente para prevenir este tipo de situações, mas infelizmente não é. Todos sabemos como são vandalizados, quase diariamente, os elevadores da Glória, bem como das paredes das habitações próximas. Já para não falar dos carros que são, sistematicamente, assaltados num rua próxima, dia-após-dia, sem que a PSP - que certamente conhece bem este histórico - tenha algum tipo de atitude preventiva. Vamos acreditar que um dia, não muito longínquo, crimes e actos de vandalismo sejam acontecimentos de excepção e não a regra no nosso quotidiano.

Reais cumprimentos,

sábado, 8 de agosto de 2009

Caro António Costa,

As ruas do Bairro Alto estão entregues a si próprias. Onde estava a autoridade mais próxima no preciso momento deste último crime, na madrugada de hoje? Quanto tempo demoraram a chegar ao local? Por experiência própria sei que NUNCA se vê um único polícia a partir das 21h. Antes dessa hora vêem-se grupos de polícias especiais (quando, certamente, não são necessários) e a partir daí é o deserto do policiamento. Já cheguei a ligar para o 112 quando vejo rixas graves nas ruas do Bairro mas sou atendido com sarcasmo e displicência. Alguém, ligado à área da segurança, disse há pouco tempo numa estação de rádio que o policiamento visível trazia desconforto às zonas de diversão nocturna... Por acaso as autoridades sabem do pandemónio que se passa nas ruas do Bairro mal os bares fecham? Berros tresloucados e garrafas a partirem-se contra as paredes das casas. Espero que este dramático incidente pelo menos sirva para trazer a discussão para a praça pública.

Fico na expectativa dos seus prezados comentários,

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Caro Isaltino Morais,

O senhor consegue aproveitar o tempo de antena que é a sua própria condenação para fazer campanha política. E, tendo em conta que já foi eleito sob um clima de forte suspeição, acredito que o mesmo povo de Oeiras, à custa do qual o senhor enriqueceu, venha agora levantar a sua voz contra esta condenação. Será que não são capazes de eleger um político eficaz e honesto?

Por outro lado, escapa-me a lógica das declarações de Isabel Meirelles. Se a condenação em tribunal do senhor não serve para o atacar politicamente, serve para quê? Para o atacar pessoalmente? O senhor cometeu crimes enquanto responsável político no qual uma população inteira confiou. Embora sejam da mesma cor partidária, o senhor deve ser duramente criticado por Isabel Meirelles. Até a título do exemplo a não seguir.

Enquanto recorre e não recorre, o senhor deve, efectivamente, retirar a sua candidatura. Se, porventura, vier a ser inocentado, o que acho difícil, logo regressará à política com o seu nome lavado. Mas, dada a condenação, o senhor têm que renunciar imediatamente.

Até breve,

domingo, 2 de agosto de 2009

Caro Francisco Balsemão,

Logo após o 25 de Abril, eu era um miúdo, ouvi numa igreja, na beira alta, o padre dizer ao povo - gente humilde, honesta, muito trabalhadora mas pouco instruída - "Votem PPD, porque é o partido com as setas a apontar para o céu, para onde queremos ir...". Nunca esqueci estas palavras. Em adulto, associei sempre esta memória à estatística da distribuição geográfica dos votos da direita, o que tem sido razão suficiente para nunca votar nesta facção.

A ideia que tenho, e admito que possa até ser um pouco romanceada pela tradição de "esquerda sofrida" que vivi em família, ainda antes do 25 de Abril..., é que políticos como o senhor (foi), como Cavaco Silva, Manuela Ferreira Leite, Maria José Nogueira Pinto..., para enumerar os mais recentes, e sinistros, só estão interessados em manter uma certa "ordem natural das coisas", um sistema com classes bem demarcadas, segundo o qual, só assim, a economia funciona. Os pobrezinhos e a gente de bem.

Passe bem,

terça-feira, 28 de julho de 2009

Caro Presidente Cavaco Silva,

Não sou adepto das teorias que vêem nos nossos traços fisionómicos um reflexo da nossa personalidade. Acredito, no entanto, que existem certas características nossas que o fazem. Acredito que a forma como nos engasgamos a falar, diz muito sobre a nossa honestidade. Acredito que a forma como evitamos olhar os nossos interlocutores nos olhos, diz muito sobre a nossa competência. Acredito que a forma como comemos bolo rei, diz muito sobre a nossa formação,... Avalio a personalidade de pessoas que só conheço superficialmente através destas características e percebo que não me interessa relacionar com elas. Percebo que, embora seguindo um método cauteloso e "low profile", são pessoas que não olham a meios para atingir os seus fins. Pessoas que não são de confiança.

Sem mais assunto,

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Cara Ministra da Saúde,

Sabe qual o comentário que me ocorre face à notícia que refere que os institutos angaradores de sangue recusam as doações dos homossexuais? "Mais sobra!" Parece-me um pouco limitado da parte da senhora não perceber que a ofensa não está só na evidente discriminação que esta medida acarreta mas também no pressuposto que os homossexuais querem ser dadores de má fé. Ou que são ignorantes! Já agora, pergunto-lhe, senhora ministra, o que diz a estatística sobre heterossexuais que frequentam prostitutas e/ou têm amantes e que o assumem perante os serviços que angariam sangue. Estranho que uma senhora com a sua idade e percurso não saiba que, enquanto a homossexualidade tem vindo a ser socialmente aceite, as relações extraconjugais e/ou frequência de prostíbulos continuam a ser assuntos clandestinos, logo, mais facilmente omissos. A hipocrisia com que a senhora nos brinda ao lançar esta medida leva-me a devolver-lhe os pressupostos que atrás referi: a senhora agiu por ignorância ou má fé? Uma última tirada filosófica que lhe deixo e de borla: os preservativos não discriminam mas as consciências sim.

Passe bem,

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Caro CEO da PT Pro,

Quanto à "informação orientadora de vestuário profissional" que o senhor assinou e fez circular pelos seus trabalhadores, permita-me que expresse a minha opinião: é uma medida retrógrada e impossível de cumprir. Um bom profissional não se mede pelo tamanho das suas saias. E, acredite, o bom senso faz parte do profissionalismo, pelo que a sua preocupação me parece descabida. É um traço de saudável auto-confiança o facto de um indíviduo se afirmar como tal. A - passe a expressão - "carneirada" cinzenta e deprimente que ainda povoa os segmentos de negócios ditos mais tradicionais, é que deveria estar estar nas suas prioridades enquanto "alvo a abater". Acredite que uma empresa com gente feliz e autoconfiante é o melhor cartão de visita que pode ter.

Cumprimentos.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Caro João César das Neves,

Vivemos num estado laico. A religião não tem que se misturar com o estado, nem tem que assumir que a legislação se faz a seu favor ou contra si. É um perfeito disparate. Os católicos, e pessoas de outros credos, podem viver sobre as regras das suas religiões, desde que essas regras não "importunem" o estado de direito em que vivemos. Já um cidadão ateu não tem que andar a reboque do pensamento religioso. Era o que mais me faltava. Já bem me basta o IRS. Há que estar receptivo a outras mudanças. Deixe-se de moralismos bacocos.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Cara Manuela Ferreira Leite,

Recordo-lhe que já foi Ministra da Educação e muito contestada na altura. O aproveitamento político que está a fazer deste dossier difícil (Educação) mostra bem o seu carácter de líder partidária. E a forma como geriu a sua relação política com Pedro Santana Lopes, no meu entender, foi pouco escrupulosa. A sua atitude de líder conservadora e até retrógrada não farão de Portugal um país mais justo e livre. Não a vejo a fazer críticas construtivas mas sim preocupada em atacar por atacar. Enfim, é a minha opinião, mas respeito todas as outras desde que fundamentadas.

Até breve...

quarta-feira, 20 de maio de 2009

Cara Maria de Belém,

Saúde e educação são duas coisas distintas. Permita-me a metáfora, "cada macaco no seu galho".
Desconheço por que tipo de estabelecimentos de ensino optou para os seus filhos mas, estou em crer, pelas suas palavras, que não terão sido estabelecimentos públicos. Ou se foram, não posso deixar de estranhar o seu alheamento da realidade que aí se vive.
Concordo com a distribuição de meios contraceptivos nas escolas. Obviamente deverá haver um enquadramento que, por sua vez, é um reforço ao trabalho que os pais já fizeram. Jovens bem informados e bem formados não se tornam em libertinos só porque se distribuem preservativos nas escolas. Todos sabemos, e é só questão de puxar um pouco pela memória, que o interesse pelos assuntos do sexo desperta nos primeiros anos da adolescência. Se o facto for encarado com naturalidade e abordado de forma descomplexada, certamente que as opções dos jovens serão as mais sensatas. Não me parece que esconder os preservativos ou fazer um grande mistério à volta do assunto seja a solução porque, aí sim, os jovens quererão ir à descoberta e as fontes de informação poderão não ser as melhores. Cada pai/mãe que esclareça os seus filhos. A escola tratará dos filhos dos outros...

Saudações,

domingo, 10 de maio de 2009

Cara Manuela Ferreira Leite

Escrevo-lhe, uma vez mais, no intuito de lhe dar uma sugestão - quem sou eu para dar conselhos: não queira seguir a linha da demagogia, não lhe fica nada bem. Esqueça os mandamentos do chamado marketing político. Mais concretamente, não nos venha dizer que vivemos no medo, agora, como se vivia há algum tempo atrás. Recordo-lhe que é o seu partido que, genericamente, discrimina os homossexuais e condena o aborto em quaisquer circunstâncias. Medo tenho eu que as pessoas com a sua linha ideológica, retrógrada e conservadora, no mau sentido, possam vir a estar no poder. Medo tenho eu de que o senhor Pedro Santana Lopes, por decisão sua, e por uma incompreensível falta de memória dos lisboetas, possa voltar à câmara de Lisboa.

Atentamente,

segunda-feira, 30 de março de 2009

Caro João César das Neves,

Faça um esforço e pense também um pouco. O assunto é: hipocrisia. Lanço umas perguntas: Já olhou à sua volta? Reconhece que o mundo, e as pessoas com ele, estão em mudança? Acha que a igreja deve adaptar-se a este novo mundo, já que está voltada para as pessoas e não contra elas? Se as pessoas mudam, sugiro eu, a igreja deve mudar.

Agora, que já percebemos que as pessoas precisam de se deslocar de carro e que em auto-estrada se pode andar a 120kms/h, o melhor é usar cinto de segurança. Espero que tenha compreendido, caso contrário, posso tentar fazer um desenho.

Sem mais assunto,

sexta-feira, 27 de março de 2009

Cara Maria José Nogueira Pinto,

Acho extraordinário da minha parte conseguir saber r i g o r o s a m e n t e aquilo que vai escrever nos seus artigos só de ler os cabeçalhos. É um exercício assustador. Mal bato os olhos nos títulos das suas crónicas e, num relance, vendo a dimensão do corpo de texto, calculo exactamente qual a abordagem que vai fazer ao assunto. Posteriormente leio os seus artigos e confirmo que está tudo escrito como previ.

Repito, é a s s u s t a d o r !

E para si, não é?...

Grato pela atenção,

domingo, 22 de março de 2009

Caro Papa Bento XVI,

Em Portugal, aqui há algum tempo atrás, dois distintos representantes da igreja católica nacional, à vez, vieram dar fundamento à minha teoria conspirativa de que esta religião se encontra a cumprir uma estratégia de marketing de terrorismo ideológico.

O primeiro tema por um desses representantes: os prováveis sarilhos provenientes dos casamentos celebrados entre mulheres católicas e homens muçulmanos.

Sobre este assunto relembro, a quem gosta tanto de estabelecer prioridades, que o maior sarilho para as mulheres católicas portuguesas é casarem com homens que são fervorosos adeptos do consumo excessivo de bebidas alcoólicas. Ao assumirem este compromisso, as mulheres católicas estão a expor-se a um monte de sarilhos que nós, assim como o cardeal, sabemos muito bem onde acaba. Pelos vistos, não obstante a estatística, não há é interesse por parte do cardeal para este tema. Estou convencido que mulheres espancadas pelos maridos bêbedos são uma excelente clientela da igreja.

O segundo tema: o casamento entre homossexuais. A igreja católica, como instituição experiente que é, vem meter a sua colherada também neste assunto. De qualquer forma, e posto o que já disse noutras mensagens anteriores, gostaria só de contar uma “anedota” que ouvi no programa de rádio “Janela Aberta” do RCP. Creio que na terça-feira, 17 de Março, esse programa convidou um representante da igreja para abordar a questão do celibato. O convidado explicou – para quem teve a sorte de ouvir – que ser celibatário não é uma questão de “aguentar ou não aguentar”, porque, explicou ele, nessa ordem de ideias, também ele não percebia como é que “um homem aguenta a mesma mulher durante 20 anos”… Ao silêncio que se seguiu – eu não ouvi a locutora a engolir em seco, mas tenho a certeza que o fez – o convidado percebendo o alcance da “pérola”, tentou remediar com uma ideia simétrica para as mulheres, mas já era demais.

Esta “anedota” fala por si só quanto à habilidade da igreja em discutir assuntos relacionados com qualquer tipo de casamento.

Finalmente, mas não por fim, o senhor Papa (com maiúscula para diferenciar de “o senhor come”) foi a África avisar sobre os perigos do preservativo no combate à Sida. Para as grandes personalidades, reservam-se os assuntos mas fracturantes.

Eu acho que a igreja tem toda a legitimidade para fazer este marketing de terrorismo ideológico. Afinal, é uma instituição que se sente a afundar a grande velocidade. Mas eu, para essas causas, não dou.

Atentamente,

sábado, 14 de março de 2009

Cara Manuela Ferreira Leite,

Por favor, queira fazer jus à classificação de político honesto que, direita e esquerda, não obstante acharem-na competente ou incompetente, lhe atribuem. Faça jus a essa classificação admitindo a importância que a dupla Durão Barroso e Santana Lopes tiveram, para além dos factores internacionais, na actual situação que vivemos. E, nessa linha, faça um "mea culpa" relativamente à nomeação de Santana Lopes como candidato do PSD à Câmara de Lisboa.

Agradeço-lhe ainda que aconselhe um seu amigo próximo a desenvencilhar-se de um conselheiro duvidoso. (Bela aliteração!)

Por último, se me permite, descole-se da União das Famílias Portuguesas que, pelos vistos, estão preocupados com questões "não prioritárias". E se as Famílias Portuguesas têm questões prementes! Como a violência doméstica, da qual só conhecemos a ponta do iceberg. E outras disfuncionalidades que diariamente lemos nos jornais, essas sim, verdadeiros flagelos socias. (Rima e é verdade.)

A União das Famílias Portuguesas que se preocupe com assuntos profundos, em vez de se preocupar com "assuntos demasiado profundos".

Atentamente,

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Caro António Pinto Leite,

Li o artigo que publicou hoje no Expresso. Tomo a liberdade de, com conhecimento de causa, dar-lhe a seguinte sugestão: por favor, não generalize. As características que revelou dos seus amigos e amigas homossexuais, como o senhor referiu, não são chapéu para todas as cabeças. Acredito que já não o são para a esmagadora maioria. Talvez existam aspectos conjunturais que levem os seus amigos e amigas homossexuais a serem pessoas - usando as suas expressões - votadas a uma "solidão secreta e abandonada", socialmente sentenciados a "uma vida irreconhecida, a condenação à vergonha deles e dos pais". Occorre-me que os aspectos conjunturais, que acima mencionei, não sejam alheios ao facto de essas pessoas serem seus amigos e amigas, ou seja, pertecerem a um certo círculo, talvez, desajustadamente repressivo.

O retrato que o senhor fez, permita-me dizer-lhe, está desactualizado. Na minha opinião, o discurso de paternal benevolência nunca será ajuda para ninguém.

E, já agora, permito-me a mais um reparo ao artigo que o senhor escreveu: criar uma nova figura legal para enquadrar o casamento entre homossexuais, para não "mexer com sentimentos demasiado profundos", soa a - pelo menos a mim soa - discurso esotérico. Por favor, não se esqueça que estamos num estado laico.

Independentemente da nossa vontade, caro senhor, a família está a ganhar novos contornos, para o bem e para o mal. E, suspeito, não demorará muito, até que gerações próximas olhem para trás e ironizem sobre a polémica do casamento entre pessoas do mesmo sexo da mesma forma como agora ironizamos sobre os tempos em que as mulheres não tinham participação na vida pública.

Cumprimentos.

Cara Sofia S. Galvão,

Li o seu artigo no Expresso de dia 28 de Fevereiro e tomei a liberdade de lhe enviar estas linhas. Até há bem pouco tempo, tendo em conta a já longa história de Portugal, a esfera de actuação das mulheres na vida política, e em certos actos públicos, era extremamente reduzida. A coragem e persistência de alguns, independentemente de ser considerado assunto prioritário, levou a que as mulheres, com toda a justiça, vissem reconhecidos, quase, todos direitos e ganhassem um protagonismo, quase, igual ao dos homens. Infelizmente, ainda falta o "quase", mas por pouco tempo.

Não há momentos certos para que alguns assuntos se tornem prioritários. Nunca é cedo demais para que cidadãos cumpridores e idóneos vejam os seus direitos reconhecidos. Na minha opinião, o casamento é uma instituição em declínio e na qual não me revejo, mas não me incomoda que outras pessoas, qualquer que seja a sua orientação sexual, pensem o contrário, uma vez que isso em nada atenta contra a minha pessoa.

Grato pela atenção.