sábado, 28 de fevereiro de 2009

Caro António Pinto Leite,

Li o artigo que publicou hoje no Expresso. Tomo a liberdade de, com conhecimento de causa, dar-lhe a seguinte sugestão: por favor, não generalize. As características que revelou dos seus amigos e amigas homossexuais, como o senhor referiu, não são chapéu para todas as cabeças. Acredito que já não o são para a esmagadora maioria. Talvez existam aspectos conjunturais que levem os seus amigos e amigas homossexuais a serem pessoas - usando as suas expressões - votadas a uma "solidão secreta e abandonada", socialmente sentenciados a "uma vida irreconhecida, a condenação à vergonha deles e dos pais". Occorre-me que os aspectos conjunturais, que acima mencionei, não sejam alheios ao facto de essas pessoas serem seus amigos e amigas, ou seja, pertecerem a um certo círculo, talvez, desajustadamente repressivo.

O retrato que o senhor fez, permita-me dizer-lhe, está desactualizado. Na minha opinião, o discurso de paternal benevolência nunca será ajuda para ninguém.

E, já agora, permito-me a mais um reparo ao artigo que o senhor escreveu: criar uma nova figura legal para enquadrar o casamento entre homossexuais, para não "mexer com sentimentos demasiado profundos", soa a - pelo menos a mim soa - discurso esotérico. Por favor, não se esqueça que estamos num estado laico.

Independentemente da nossa vontade, caro senhor, a família está a ganhar novos contornos, para o bem e para o mal. E, suspeito, não demorará muito, até que gerações próximas olhem para trás e ironizem sobre a polémica do casamento entre pessoas do mesmo sexo da mesma forma como agora ironizamos sobre os tempos em que as mulheres não tinham participação na vida pública.

Cumprimentos.

Cara Sofia S. Galvão,

Li o seu artigo no Expresso de dia 28 de Fevereiro e tomei a liberdade de lhe enviar estas linhas. Até há bem pouco tempo, tendo em conta a já longa história de Portugal, a esfera de actuação das mulheres na vida política, e em certos actos públicos, era extremamente reduzida. A coragem e persistência de alguns, independentemente de ser considerado assunto prioritário, levou a que as mulheres, com toda a justiça, vissem reconhecidos, quase, todos direitos e ganhassem um protagonismo, quase, igual ao dos homens. Infelizmente, ainda falta o "quase", mas por pouco tempo.

Não há momentos certos para que alguns assuntos se tornem prioritários. Nunca é cedo demais para que cidadãos cumpridores e idóneos vejam os seus direitos reconhecidos. Na minha opinião, o casamento é uma instituição em declínio e na qual não me revejo, mas não me incomoda que outras pessoas, qualquer que seja a sua orientação sexual, pensem o contrário, uma vez que isso em nada atenta contra a minha pessoa.

Grato pela atenção.