Li o artigo que publicou hoje no Expresso. Tomo a liberdade de, com conhecimento de causa, dar-lhe a seguinte sugestão: por favor, não generalize. As características que revelou dos seus amigos e amigas homossexuais, como o senhor referiu, não são chapéu para todas as cabeças. Acredito que já não o são para a esmagadora maioria. Talvez existam aspectos conjunturais que levem os seus amigos e amigas homossexuais a serem pessoas - usando as suas expressões - votadas a uma "solidão secreta e abandonada", socialmente sentenciados a "uma vida irreconhecida, a condenação à vergonha deles e dos pais". Occorre-me que os aspectos conjunturais, que acima mencionei, não sejam alheios ao facto de essas pessoas serem seus amigos e amigas, ou seja, pertecerem a um certo círculo, talvez, desajustadamente repressivo.
O retrato que o senhor fez, permita-me dizer-lhe, está desactualizado. Na minha opinião, o discurso de paternal benevolência nunca será ajuda para ninguém.
E, já agora, permito-me a mais um reparo ao artigo que o senhor escreveu: criar uma nova figura legal para enquadrar o casamento entre homossexuais, para não "mexer com sentimentos demasiado profundos", soa a - pelo menos a mim soa - discurso esotérico. Por favor, não se esqueça que estamos num estado laico.
Independentemente da nossa vontade, caro senhor, a família está a ganhar novos contornos, para o bem e para o mal. E, suspeito, não demorará muito, até que gerações próximas olhem para trás e ironizem sobre a polémica do casamento entre pessoas do mesmo sexo da mesma forma como agora ironizamos sobre os tempos em que as mulheres não tinham participação na vida pública.
Cumprimentos.
sábado, 28 de fevereiro de 2009
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